Nossas raízes indígenas
As raízes do Brasil
Embora seja costume dizer que o
Brasil foi "descoberto", os índios já habitavam há muito tempo nossa
terra. Na verdade, as terras que hoje formam o Brasil eram deles e acabaram
sendo tomadas pelos europeus. Hoje temos de "redescobrír" os índios,
aprender a vê-los com mais senso de justiça, na sua condição de raiz importante
e esquecida da nossa cultura.
Algumas pessoas afirmam que o
índio não tem religião. Esse é um resquício de preconceito que os colonizadores
europeus trouxeram: qualquer religião que não fosse a deles não era considerada
religião. Se pensarmos em religião como aquilo que tem relação com crenças,
valores, rituais e cultos, então os índios obviamente têm a sua religião. Mas
corno conhecê-la, uma vez que ela não está nos livros? Só podemos fazer isso
por meio das tradições orais.
O problema é que muitas nações
indígenas foram exterminadas. Quando os portugueses aqui chegaram, havia mais
de mil povos indígenas, somando de 2 a 4 milhões de indivíduos - alguns
estudiosos falam em 5 milhões. Atualmente restam pouco mais de 200 povos, com
cerca de 300 a 350 mil índios. O que sabemos hoje sobre esses povos nos foi
transmitido pelos poucos índios que .restaram e pelos estudiosos que, no decorrer
dos' séculos, recolheram seus mitos e suas ideias e observaram suas práticas.
O que é sagrado para os índios
Há muita coisa sagrada para os
povos indígenas: a terra em que nascem e enterram seus mortos; os espíritos dos
que se foram; as forças da natureza comandadas por espíritos e deuses; os ritos
que praticam em danças e cantos.
Para pedir chuva, para celebrar
um casamento, para enterrar um morto, para festejar uma vitória de guerra, os
índios têm rituais próprios, dos quais homens, mulheres e crianças participam,
quase sempre cantando e dançando.
É difícil falar dos rituais,
porque são muitos os povos e muitos os nomes de cada ritual. Mas a maioria
deles são "ritos de passagem", isto é, marcam um momento importante
na vida de cada indivíduo. Assim, praticam-se ritos ou rituais quando se passa
a um novo estado social, quando nasce um bebê, quando há um casamento, quando
se entra no mundo adulto ou no mundo dos mortos.
Quando um adolescente entra no
mundo adulto, por exemplo, os meninos têm de passar por várias provas e
aguentar firme a dor para mostrar que serão guerreiros valentes. Ficam também
um período sem poder sair de casa. No caso das meninas, elas passam algum tempo
trancadas e precisam se preparar para serem mulheres. Entre os Kayapó, a menina
fica três semanas sem sair, devendo sofrer pequenas incisões com dentes de
piranha para purificar o sangue. Entre as tribos do Xingu, a reclusão das
meninas dura de seis meses a um ano, em completa escuridão. Depois desse
período, a moça pode se casar.
Como os índios tratam uns aos
outros
Um dos valores da cultura
indígena é o respeito que se tem pelos mais velhos. São eles que detêm o saber
e a tradição e transmitem o que é preciso ensinar às novas gerações. Os velhos
não são deixados de lado nem abandonados, porque são parte vital da comunidade.
Os índios também tratam muito bem
as crianças. Eles jamais batem nelas ou gritam com elas; em vez disso, ensinam
com toda a paciência o que elas precisam aprender. Os meninos aprendem a
pescar, caçar e guerrear. As meninas aprendem a plantar, cozinhar e trançar. Na
cultura indígena, há divisão de trabalho entre homens e mulheres.
Os pajés
A pessoa mais respeitada da tribo
é o pajé, pois é ele que detém o poder de entrar em contato com o mundo invisível.
Ele vê os espíritos, cura as doenças, dá conselhos, prevê o futuro e comanda os
rituais. Sabe de todas as tradições e conhece todos os segredos. Segundo a
tradição indígena, os pajés são pessoas capazes de ver, em sonho, tanto os
espíritos como a solução dos problemas. Certa vez, em uma entrevista, um pajé
explicou que quando ele sonhava seu espírito saía do corpo. "
Os pajés também fazem a chamada
"pajelança", um ritual em que eles fumam, cantam e fazem suas rezas
para afastar algum 'espírito mau que esteja atormentando uma pessoa ou para curar
uma doença. Na pajelança, usam-se também ervas medicinais que os índios vão
buscar na mata para o tratamento dos doentes.
Retirado de: Todos os jeitos de crer.